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É tetraaa! Copa de 1994

  • Foto do escritor: Rodrigo Marques
    Rodrigo Marques
  • 17 de jul. de 2024
  • 18 min de leitura

Há 30 anos, o Brasil encerrou o jejum de ser campeão do mundo.


Brasil acabou com 24 anos de jejum de copas em 94
Brasil acabou com 24 anos de jejum de copas em 94

Ao se perguntar para brasileiros com mais de quarenta anos o que faziam em 17 de julho de 1994, as respostas poderão variar entre estar em casa, viajando ou trabalhando. Até aí sem surpresas, mas se a pergunta for “o que você estava assistindo nessa data?”, a resposta provavelmente seria unanimidade: assistindo à final da Copa do Mundo nos Estados Unidos. Quem não queria acompanhar a “final do século”, que definiria a primeira seleção tetracampeã do mundo, disputada entre Brasil e Itália?


A copa do mundo de 1994 representou o começo de um ponto de virada no futebol dos anos noventa, tanto internacionalmente quanto no Brasil. Foi à primeira copa depois do fim da Guerra Fria e a separação da União Soviética. O campeonato privilegiou uma mudança tática que caracteriza o futebol moderno.


Contexto


Os anos 1980 ficaram marcados por ter sido a década de transição do futebol, com mudanças significativas nas táticas de jogo que buscavam se afastar e mudar o modorrento estilo defensivo da década de 1970, dando ênfase maior na criação de jogadas ofensivas e na criatividade no meio-campo, além do poder de decisão do ataque. Aspectos defensivos bastante fortes ainda eram observados, como o uso constante de contra-ataques e a baixa média de gols nos campeonatos.


Mesmo assim, as duas copas do período, 1982 (Espanha) e 1986 (México) foram grandes sucessos. O título da desacreditada Itália, do atacante Paolo Rossi (que não havia marcado nenhum gol até o confronto contra o Brasil), em Madrid e o apoteótico e polêmico desempenho de Diego Maradona que levou a Argentina até o bicampeonato no icônico Estádio Azteca na cidade do México, entraram para a história do esporte.


No Brasil

          Se para os italianos e os “hermanos”, a década de oitenta foi de alegria, no Brasil ficou marcada pela decepção e frustração. Depois do mágico tricampeonato em 1970, a seleção canarinho teve participações pífias nas copas seguintes. Em 1974, na Alemanha, foi atropelada pelo carrossel holandês de Rinus Michels e Johan Cruijff, e na Argentina, em 1978, amargou um polêmico terceiro lugar, depois do discutível jogo em que o Peru tomou seis gols dos argentinos.

          A esperança ficou toda para 1982. Comandada por Telê Santana, a seleção brasileira foi para a Espanha com uma das mais célebres gerações de atletas da época, jogadores como Zico, Sócrates, Falcão, Júnior e Serginho Chulapa, apresentavam um futebol bonito e ofensivo. Uma seleção de estrelas que ficou marcada pela dramática derrota para Itália, levando três gols do artilheiro Paolo Rossi, aquele que não havia marcado nenhum gol nas fases anteriores. Por aqui, o jogo ficou conhecido como a “Tragédia de Sarriá”.


Paolo Rossi foi carrasco do Brasil em 1982
Paolo Rossi foi carrasco do Brasil em 1982

            Já no México, em 1986, com alguns jogadores em declínio, mas com Careca e Casagrande formando a dupla de ataque, a “canarinho” caiu na decisão por pênaltis para a França, do craque Michel Platini. As decepções nos mundiais e as pífias campanhas na Copa América, sem um título desde 1949, fizeram com que a década fosse bastante amarga para a seleção.


Década de 1990


Com o fracasso da Copa de 1990, na Itália, na época o polo do futebol mundial, uma das copas com menos gols marcados na história e, sem dúvida, umas das mais chatas, veio o ponto de virada. Após o mundial, várias organizações de campeonatos, seleções e técnicos começaram de fato a adotar e privilegiar um estilo mais ofensivo e dinâmico de jogo.

Além disso, foi introduzida a regra do passe recuado em 1992, que impediu os goleiros de pegarem a bola com as mãos após um passe de um companheiro de equipe, incentivando um jogo mais rápido e fluido. Essas mudanças levaram a um aumento significativo no número de gols marcados por partida, com atacantes passando a marcar 20 tentos na rede ou mais.


Como parte de sua estratégia de expansão global do futebol, a Fifa criou um plano visando países pouco tradicionais no esporte. Três nações concorreram para sediar a Copa do Mundo: Estados Unidos, Brasil e Marrocos. A votação foi realizada em Zurique, em 4 de julho de 1988, coincidentemente o dia em que se comemora a Independência dos Estados Unidos, e durou apenas um turno. Os norte americanos receberam pouco mais da metade dos votos dos membros do Comitê Executivo da FIFA.


Werner Fricker, então presidente da USSF, brinda aos EUA pela conquista dos direitos de sediar a Copa do Mundo de 1994.
Werner Fricker, então presidente da USSF, brinda aos EUA pela conquista dos direitos de sediar a Copa do Mundo de 1994.

A decisão visava aproveitar o vasto mercado americano e estimular o desenvolvimento do "soccer" no país, que estava crescendo em popularidade, especialmente entre os jovens. Foi o pontapé inicial para o esporte em terras norte-americanas. Lembrando que de 1950 até 1986, os Estados Unidos não se classificaram nenhuma vez para disputar o torneio, e ainda tiveram uma participação desastrosa na Copa da Itália, em 1990. Em seu retorno depois de 40 anos de ausência, perderam os três jogos da fase de grupos. Com o mundial sendo em casa, uma mudança de ares era esperada. 


A Seleção de Parreira


No início da década, a seleção brasileira vivia uma mistura de altas expectativas combinadas com muito ceticismo. Depois de vencer a Copa América de 1989, veio a campanha decepcionante no mundial da Itália. A equipe, treinada por Sebastião Lazaroni, foi criticada pelo estilo de jogo retranqueiro, usando cinco defensores. Foi eliminada pela Argentina nas oitavas de final, com gol de Claudio Caniggia.


O Brasil começou a preparação para a Copa de 1994 sem muito planejamento: primeiro, teve Paulo Roberto Falcão como técnico, que foi demitido depois de perder o título da Copa América de 1991 para a Argentina e por brigas com o alto escalão da CBF, que o pressionava a convocar jogadores cariocas. Foi substituído por Carlos Alberto Parreira, conhecido por seu estilo pragmático e defensivo. A escolha foi bastante criticada, por ser um treinador que não adotava o "futebol arte", tradicionalmente associado ao Brasil.


Buscando opções, Parreira levou uma equipe mais alternativa para a Copa América de 1993, sendo derrotado nos pênaltis pela Argentina nas quartas de final. Para ajudar, a lenda Mário Zagallo, tricampeão mundial como jogador e técnico, foi confirmado como assistente tendo a responsabilidade de cuidar da disciplina dos jogadores.


Nas eliminatórias, a canarinho teve um desempenho irregular. Estreou com um empate sem gols em Guayaquil contra os donos da casa, o Equador, seguido por uma derrota de 2-0 para a Bolívia, a primeira derrota da seleção na história das Eliminatórias, na altitude de La Paz. Depois goleou a Venezuela em San Cristóbal e empatou de novo contra o Uruguai em Montevidéu


Para completar, Parreira teve problemas de relacionamento com Romário, principal jogador do Brasil na época, que o rotulava como arrogante e desagregador, e o deixou de fora nos confrontos de volta contra Bolívia e Venezuela. Mas as seguidas boas atuações do atleta no Barcelona deram origem a um clamor público por sua convocação.

A comissão técnica cedeu ao apelo popular e Romário foi convocado, contra a vontade de Parreira, para o jogo decisivo contra o Uruguai, no Maracanã. Em campo, o Brasil venceu por dois a zero, com ambos os gols de Romário, e garantiu a classificação para a Copa do Mundo na última rodada.


Romário foi o herói da seleção no último jogo das eliminatórias da Copa
Romário foi o herói da seleção no último jogo das eliminatórias da Copa

Copa do Mundo 1994


Para receber o evento, os Estados Unidos ofereceram uma infraestrutura esportiva de ponta, com estádios modernos e facilidades de alto nível, embora muitos estádios fossem originalmente construídos para o futebol americano. A US Soccer gastou cerca de US$ 500 milhões preparando e organizando o torneio, muito menos do que os bilhões gatos em média por outros países, na preparação para este torneio. Os americanos também estabeleceram novos acordos de patrocínios e marketing em torno do torneio. Marcas como Nike e Coca-Cola aproveitaram a visibilidade global para campanhas massivas.


Foi um mundial marcado pela presença de vários grandes jogadores em várias seleções, como Gheorge Hagi da Romênia, Hristo Stoichkov da Bulgária, Carlos Valderrama da Colômbia, Oleg Salenko da Rússia e Henrik Larsson da Suécia. No entanto, os grandes destaques ficavam para a Argentina, que além de Maradona, tinha Fernando Redondo, Diego Simeone, Abel Balbo e Gabriel Batistuta no elenco. A Alemanha, campeã de 1990, tinha Lottar Mathäus, Andreas Brehme, Rudi Voller e Jurgen Klinsmann; a Holanda, com Frank Rijkaard, Ronald Koeman, Marc Overmars e Dennis Bergkamp; e a fortíssima Itália, que era liderada por Paolo Maldini, Franco Baresi e o goleiro Gianluca Pagliuca na defesa, Nicola Berti e Demetrio Albertini no meio-campo, Roberto Baggio e Gianfranco Zola no ataque.



As maiores ausências da edição ficaram por conta da França, de Eric Cantona e Jean-Pierre Papin, e todas as seleções do Reino Unido (Inglaterra, País de Gales, Escócia e a Irlanda do Norte). Todas caíram ainda nas eliminatórias da competição.


Já o Brasil foi para a terra do Tio Sam com time sendo formado por Claúdio Taffarel no gol; Marcio Santos e Ricardo Rocha na zaga; Jorginho na lateral-direita, Leonardo e Branco revezando na lateral-esquerda; Dunga, Mauro Silva e Zinho no meio-campo e o trio Romário, Bebeto e o capitão Raí no ataque. Alguns jogadores célebres entre os reservas estavam Zetti, Cafu, Muller e o jovem Ronaldo Nazário, de 17 anos.


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Fase de Grupos


O formato da competição permaneceu o mesmo das Copas do Mundo de 1990 e 1986: classificavam-se 24 seleções, divididas em seis grupos de quatro. Dezesseis equipes se classificariam para a fase eliminatória: os seis vencedores dos grupos, os seis segundos classificados dos grupos e os quatro terceiros colocados com os melhores resultados.


Grupo A


O jogo do Grupo A entre Estados Unidos e Suíça foi o primeiro a acontecer em ambiente fechado, disputado sob a cobertura do Pontiac Silverdome. De forma surpreendente, a Romênia ficou em primeiro lugar após as vitórias contra a Colômbia e os EUA. Os colombianos, apesar das altas expectativas, ficaram em último no grupo, perseguidos por sindicatos de apostas e cartéis de drogas. Após marcar um gol contra que eliminou a Colômbia da competição, o zagueiro Andrés Escobar foi tragicamente assassinado do lado de fora de um bar em Medellín 10 dias depois.


Grupo B


No Grupo B, o Brasil avançou tranquilamente para a fase eliminatória. Romário marcou o primeiro gol e sofreu o pênalti que originou o segundo, de Raí, na vitória por 2 a 0 contra a Rússia. No entanto, a equipe perdeu o zagueiro Ricardo Rocha por lesão, sendo substituído por Aldair, que formou uma parceria defensiva inesquecível com Márcio Santos. No jogo seguinte, contra Camarões, esperava-se um jogo difícil, mas a vitória por 3 a 0 foi fácil, com gols de Romário, Márcio Santos e Bebeto, garantindo a vaga nas oitavas de final. Um empate de 1 a 1 com a Suécia, com outro gol de Romário, garantiu o primeiro lugar do grupo, com a Suécia em segundo.


Em um jogo recorde entre as equipes eliminadas, Camarões e Rússia, Oleg Salenko tornou-se o primeiro e único jogador a marcar cinco gols em uma única partida da Copa do Mundo, garantindo o título de artilheiro do torneio com seis gols. Roger Milla, de Camarões, aos 42 anos, tornou-se o jogador mais velho a marcar um gol na Copa do Mundo.


Grupo C


No grupo C, Alemanha e Espanha avançaram sem perder nenhum de seus confrontos. O grande momento ficou por conta da Bolívia, que terminou em último no grupo. O atacante Erwin Sanchez fez história no time após marcar o primeiro gol da nação na Copa do Mundo em uma derrota por 3–1 para a Espanha. Antes de 1994, a Bolívia nunca havia marcado em nenhuma de suas aparições anteriores nas Copas do Mundo de 1930 e 1950.


Grupo D


O Grupo D marcou o fim da carreira de Diego Maradona em Copas do Mundo. Após as vitórias contra a Grécia e Nigéria (onde marcou seu último gol), Maradona foi expulso do torneio por falhar em um teste antidoping que revelou efedrina. O grupo teve um empate triplo, com Nigéria, Bulgária e Argentina avançando com seis pontos cada. A Bulgária surpreendeu muitos, avançando pela primeira vez na história, com vitórias sobre a Grécia por 4 a 0 e a Argentina por 2 a 0.


A foto de Maradona de mãos dadas com a enfermeira Sue Carpenter simbolizou o declínio da carreira de "Dios"
A foto de Maradona de mãos dadas com a enfermeira Sue Carpenter simbolizou o declínio da carreira de "Dios"

Grupo E


Mais impressionante que um empate triplo foi o grupo E. A única vez na história da Copa do Mundo em que todos os quatro times terminaram com os mesmos pontos (quatro pontos). México, Irlanda, Itália e Noruega tiveram uma vitória, uma derrota e um empate nos confrontos. Todos os quatro times até tiveram a mesma diferença de gols (zero). O destaque negativo fica para os italianos, que chegavam com altas expectativas pelo seu elenco e técnico (Arrigo Sachi), mas ficaram em terceiro, garantindo a vaga apenas no último jogo, um empate de 1 a 1 com o México.


Grupo F


No Grupo F, a Bélgica começou forte com duas vitórias por 1-0 contra Marrocos e Holanda, mas terminou em terceiro após uma derrota por 1-0 para a estreante Arábia Saudita, destacada pelo incrível gol solo de Saaed Al-Owairan. A Arábia Saudita avançou para as oitavas de final após uma vitória por 2-1 sobre Marrocos. A Holanda, apesar de um caminho difícil, liderou o grupo após uma vitória por 2-1 contra Marrocos, tendo marcado mais gols que a Bélgica e derrotado a Arábia Saudita. Marrocos, apesar de perder todos os três jogos, lutou em cada um, com derrotas por apenas um gol.

 

Mata-Mata dos finalistas


            Brasil


            Antes mesmo das oitavas de final, Parreira teve que mudar o time no meio de campo colocando Mazinho como titular, que estava em grande fase, no lugar de Raí, que não jogava absolutamente nada naquele Mundial. Dunga ficou com a faixa de capitão em seu lugar.

Com o craque do Palmeiras em campo, o Brasil teve um adversário complicado nas oitavas de final: os donos da casa, bem no dia 4 de julho, dia da independência americana. Com dose extra de motivação, os americanos deram trabalho para Taffarel, enquanto o Brasil pecava demais nas finalizações (até Romário, que perdeu um gol feito após driblar o goleiro) Com um jogador a menos em todo o segundo tempo, Leonardo foi expulso aos 43′ da primeira etapa, por ter dado uma cotovelada no adversário, e não jogou mais naquele Mundial (Branco assumiu a titularidade absoluta no lugar), o torcedor brasileiro temia pelo pior.



Mas aí o baixinho brilhou e fez à jogada que resultou no passe preciso para Bebeto marcar o gol da vitória e dizer “eu te amo” para o atacante. O Brasil amava Romário! A seleção estava nas quartas de final As quartas de final colocaram frente a frente Brasil e Holanda, duas ótimas equipes naquela Copa. Se o primeiro tempo não teve grandes emoções, o segundo foi um estrondo. O Brasil jogou demais e com um brilho até então inédito naquela Copa e abriu 2 a 0, o primeiro de Romário, em jogada muito bem trabalhada. O segundo foi mágico, de Bebeto, driblando zagueiro e goleiro e eternizando a comemoração do “embala nenê”, pois seu filho havia nascido dois dias antes do jogo.


Mas a Holanda aproveitou a acomodação do time brasileiro e empatou com Bergkamp e Aron Winter. Faltando 9 minutos para o final do jogo, falta de Branco que ele transformou em falta nele mesmo. O lateral, contestado por muitos naquele Mundial, cobrou, Romário desviou da bola de maneira providencial e enganou o goleiro. Golaço! 3 a 2. A revanche pela eliminação na Copa de 1974 estava garantida. E a vaga nas semifinais era brasileira.

O adversário seguinte seria, de novo, a surpreendente Suécia. E, de novo, Romário mostrou seu poder de decisão e marcou o único gol do jogo, depois de o Brasil perder muitos e muitos gols, alguns deles mais do que feitos. Era o Brasil de volta à final de uma Copa.


A icônica comemoração do "embala nenê" de Bebeto
A icônica comemoração do "embala nenê" de Bebeto


Itália


Depois da fraca fase de grupos, a azzura engrenou. Nas oitavas-de-final contra a Nigéria, que havia impressionado na fase de grupos, começou o jogo com confiança. Aos 25 minutos, Emmanuel Amuneke colocou os nigerianos na frente com um gol, deixando a Itália em uma situação difícil. A seleção italiana teve dificuldades em penetrar a defesa nigeriana, e o jogo parecia destinado a uma eliminação precoce para os italianos.

No entanto, aos 88 minutos, Roberto Baggio, que até então não estava em seu melhor momento no torneio, surgiu como o salvador da equipe ao marcar o gol de empate com um chute preciso dentro da área. Esse gol levou a partida para a prorrogação. Na prorrogação, Baggio novamente brilhou. Aos 102 minutos, ele converteu um pênalti, que havia sido concedido após uma falta em Antonio Benarrivo, selando a vitória da Itália por 2 a 1 e garantindo a passagem para as quartas de final.



A partida contra a Espanha foi intensa e equilibrada. Dino Baggio abriu o placar para a Itália aos 25 minutos com um chute potente de fora da área, após uma jogada ensaiada em um escanteio. A Espanha empatou aos 58 minutos com um gol de José Luis Caminero, após um erro da defesa italiana. Aos 88 minutos, Roberto Baggio mais uma vez apareceu para decidir a partida. Após um passe em profundidade de Giuseppe Signori, o camisa 10 driblou o goleiro espanhol e marcou o gol da vitória. O jogo também ficou conhecido pela polêmica falta de Mauro Tassotti em Luis Enrique, que quebrou o nariz do espanhol.



A semifinal contra a Bulgária foi mais um palco para a genialidade de Roberto Baggio. Aos 21 minutos, Baggio abriu o placar com um belo gol, finalizando com precisão após um passe de Demetrio Albertini. Apenas quatro minutos depois, Baggio marcou novamente, desta vez com um chute colocado de fora da área, deixando a Itália em uma posição confortável. A Bulgária descontou aos 44 minutos com um gol de pênalti de Stoichkov. No entanto, a defesa italiana, liderada por Alessandro Costacurta e Paolo Maldini, manteve a vantagem durante o segundo tempo, garantindo a vaga na final.


Com dois de Baggio, a Itália bateu a sensação Bulgária na semifinal
Com dois de Baggio, a Itália bateu a sensação Bulgária na semifinal


A Final


Brasil e Itália foram para a final, ambas as equipes estavam em busca do inédito Tetracampeonato Mundial, o que lhes daria a hegemonia do futebol. Era a quinta vez que a Itália disputava uma Final de Copa do Mundo, e a quarta vez do Brasil, já que em 1950 não houve uma final propriamente dita, e sim uma rodada final de um quadrangular. Foi também a segunda vez que Brasil e Itália se confrontaram numa final (a outra foi em 1970), fazendo desta final a segunda disputada por equipes que já haviam se confrontado em outras finais de Copa do Mundo, já que Argentina e Alemanha haviam se enfrentado nas finais de 1986 e 1990. O estádio do evento, o Rose Bowl, registrou um número de 94 mil pessoas no lugar. A expectativa era de um grande jogo. Mas as condições extremas de temperatura (32°C) iriam prejudicar demais o espetáculo.



Desde o início, o Brasil teve controle do jogo e conseguiu acuar a Itália em seu campo. Porém, logo aos 3’, Mazinho entrou de carrinho em Berti e levou cartão amarelo. Nos três minutos seguintes, inclusive, o time de Parreira fez faltas bem duras nos jogadores italianos e flertou com mais cartões, em especial aos 7’, quando Mazinho derrubou Donadoni na entrada da área defensiva da Azzurra em busca de um contragolpe. Se ficasse com um a menos em apenas 10 minutos, o time canarinho iria sofrer bastante. Aos 12’, Dunga cruzou, Romário subiu sozinho, mas cabeceou fraco para a defesa de Pagliuca – o Baixinho estava um pouco longe para conseguir uma cabeçada mais forte. Aos 16’, contra-ataque brasileiro engatilhado por Romário. Com passadas rápidas, o craque encontrou uma brecha na marcação, a bola passou por Maldini e sobrou com Bebeto. O camisa 7 chutou, mas Maldini já estava ali para interceptar.



Aos 17’, em lançamento longo, Mauro Silva tentou cortar, mas furou. A bola ficou com Massaro, que dominou e chutou forte, rasteiro, como manda a cartilha do matador, mas o goleiro Taffarel fez uma grande defesa e ganhou a primeira do dia do atacante italiano. Aos 18’, mesmo marcado por dois, Jorginho escapou com uma finta sensacional, mas pecou no cruzamento e a zaga tirou. Porém, naquele lance, o lateral sentiu uma distensão muscular e teve que sair. Parreira chamou Cafu, lateral em ascensão aos 21’. Aos 25’, Branco cobrou falta com violência, Pagliuca foi buscar no cantinho e, no rebote, Mazinho furou. Se o meia brasileiro pegasse em cheio, a bola poderia ir ao gol ou mesmo para a pequena área, na qual quatro brasileiros esperavam para concluir ao gol vazio.

Nos minutos seguintes, o Brasil chegou pelo menos três vezes com perigo, sempre com participação de Romário, que fintava, driblava, mas não concluía bem ou não achava os espaços que gostava por conta da ferrenha marcação de Baresi e Maldini. Aos 31’, por exemplo, o Baixinho deu entre as pernas de Albertini, mas logo na sequência foi desarmado por Maldini.



Aos 37’, Sacchi percebeu que Cafu tinha liberdade pela direita e decidiu mudar o time ao colocar Apolloni na zaga e deslocar Maldini para a lateral. E, já aos 43’, Apolloni impediu uma tabela no ataque brasileiro e levou cartão amarelo. Na cobrança, Branco mandou a bomba, mas Pagliuca mais uma vez fez grande defesa. Aos 45’, pouco depois de mais um corte de Maldini em cruzamento de Cafu, o árbitro húngaro encerrou o primeiro tempo, com amplo domínio brasileiro – a equipe de Parreira teve 66% de posse de bola -, mas muitos erros na finalização e grande desempenho defensivo da Itália, bem como do time canarinho, com atuações magistrais de Dunga, Aldair e Márcio Santos.


Romário sendo marcado por Baresi e Dino Baggio
Romário sendo marcado por Baresi e Dino Baggio

Sem modificações, os times voltaram ao segundo tempo da mesma maneira, com o Brasil aparecendo mais ao ataque e a Itália tentando o contragolpe. Sem grandes emoções nos primeiros 15 minutos, só aos 16’ que o time brasileiro teve uma boa chance quando Branco tabelou com Zinho, mas, ao invés de cruzar, preferiu cavar pênalti e o árbitro não caiu na malandragem do lateral. Aos 20’, mais uma tabela entre Bebeto e Romário, mas antes que a bola pudesse chegar ao Baixinho, Maldini tirou e Pagliuca fez a defesa. Aos 29’, Mauro Silva chutou de longe, Pagliuca tentou encaixar a bola, mas ela escapuliu. Quando parecia que o goleiro italiano iria levar um frango histórico em plena final da Copa, a redonda beijou a trave e voltou para ele. Impressionante! Como agradecimento, o goleiro beijou a trave e respirou aliviado. Aos 36’, Roberto Baggio recebeu a primeira bola limpa no jogo. Mas, na hora do chute, ela foi bem longe do gol.



Mesmo desgastados, os jogadores foram para mais meia hora de jogo no Rose Bowl. E, logo aos 3’, o Brasil apareceu com perigo. O lateral Cafu cruzou, a bola sobrou limpa para Bebeto, mas sabe se lá o que raios ele tentou fazer e não concluiu a gol. A resposta da Itália veio aos 6’, quando Roberto Baggio recebeu de fora da área, chutou forte e Taffarel mandou para escanteio. Aos 9’, Zinho recebeu de Bebeto na esquerda e chutou, mas Pagliuca defendeu. No segundo tempo extra, aos 4’, o Rose Bowl viu provavelmente o gol mais perdido da final. Cafu disparou pela direita, tocou para Bebeto, este devolveu para Cafu e o lateral cruzou. A bola passou pela pequena área, nenhum italiano conseguiu cortar e sobrou para Romário. Aahh, agora vai! O Baixinho perdeu. Na hora do chute, ele não pegou de jeito, a bola foi fraca e passou raspando a trave, com Benarrivo por ali para tentar o bloqueio.



Naquela etapa, Parreira sacou Zinho e colocou o atacante Viola em busca de fôlego extra e mais poder de finalização. E, aos 5’, o atacante fez boa jogada individual e tocou para Romário, mas o chute de pé esquerdo do craque explodiu na marcação. Aos 8’, Roberto Baggio tabelou, mas chutou fraco. Aos 11’, Viola tirou a marcação de sua cola, ajeitou para o pé esquerdo e chutou, só que a redonda passou à direita do gol de Pagliuca. Foi a última chance. E, aos 15’, apito final. Pela primeira vez na história, a Copa do Mundo seria decidida nos pênaltis.



Parreira tinha dois batedores certos: o zagueiro Márcio Santos, que iria iniciar a disputa, e Bebeto, que completaria a quina caso fosse necessário. Branco e Dunga surgiram como voluntários e foram confirmados. Faltando um nome, Parreira olhou para Romário e, sem ter que perguntar, o Baixinho levantou o dedinho e disse: “vou”. Era a máxima explicação do que Romário disse anos depois: “A diferença entre o time de 1986, que perdeu nos pênaltis (para a França, nas quartas de final) e o de 1994, que venceu, é que não deixamos os meninos cobrarem pênaltis”.



Do lado italiano, Sacchi preferiu apostar na experiência, mas não levou em consideração o cansaço físico e as condições de suas estrelas. Por isso, Baresi e Baggio eram opções arriscadas. E, quando o zagueiro do Milan iniciou a disputa, mandou a bola longe do gol de Taffarel. Na sequência, para amenizar a dor do capitão, Márcio Santos foi vencido por Pagliuca, que defendeu. Porque raios aquela bola não entrava!!!?? Bem, na segunda cobrança italiana, Albertini, enfim, balançou as redes do Rose Bowl, deslocando Taffarel. O Brasil empatou com Romário, em chute que bateu na trave e entrou, para desespero de Pagliuca. Um verdadeiro golaço de pênalti do camisa 11.



O batedor seguinte foi Evani, que havia entrado no decorrer da partida. O jogador da Sampdoria bateu firme, no meio do gol, e deixou a Azzurra em vantagem. Na sequência, Branco foi para a bola e não deu chance alguma para Pagliuca: 2 a 2. A Itália foi para o quarto chute com Massaro. O italiano teve a melhor chance de gol dos europeus no tempo regulamentar e perdeu para Taffarel. Na marca da cal, outra vez o atacante não conseguiu superar o brasileiro: chute no canto esquerdo e defesa do camisa 1.



Se Dunga fizesse, o Brasil teria a vantagem pela primeira vez. E, com frieza, o capitão mandou a bola no fundo do gol: 3 a 2. A última cobrança era decisiva para a Itália. Se Roberto Baggio fizesse, ainda haveria esperança por um erro final do Brasil e início das cobranças alternadas. Se ele errasse, era o fim do sonho italiano e o início da festa brasileira. O atacante não era a melhor escolha. Estava exausto, lesionado. Mas tinha em si a responsabilidade. O camisa 10 pensou em um chute forte, no meio do gol, ao perceber o deslocamento de Taffarel para o canto. Só que o italiano exagerou na força e a bola foi muito, mas muito longe do gol. “Acaboooou, acaboooou, acaboooou! É tetraaaa!! É tetraaaa!! É tetraaaa!! O Brasil é tetracampeão mundial de futebooool. Para delírio de Galvão Bueno e todos os brasileiros.



Foi assim, com gritos eufóricos e pulando ao lado de Pelé, que Galvão Bueno eternizou aquele momento. Sem dúvida um dos mais emocionantes da história da seleção brasileira. De exorcizar de vez tantas decepções e martírios vividos por 24 anos. E justamente contra o rival da última conquista, lá em 1970, e rival que tanto fez o país chorar em 1982. Se não foi a mais brilhante, aquela seleção foi a que mais demonstrou garra, concentração, raça e vontade. Que superou os obstáculos ao longo da campanha e até antes dela para sair dos EUA com o título mundial.


Foram 20 anos de espera, mas enfim Tetra!
Foram 20 anos de espera, mas enfim Tetra!

Legado


A conquista do tetra, somada ao vice-campeonato na Copa de 1998, na França, deixou o Brasil com o título simbólico de maior seleção de futebol do século XX, por ter sido a maior campeã dos Mundiais, à frente de Itália e Alemanha, que estacionaram nas três taças. Aquela equipe de 1994 valorizou ainda mais craques como Taffarel, Márcio Santos, Branco, Aldair, Zinho, Bebeto e Dunga, que deu a volta por cima do fiasco de 1990 e levantou o caneco como capitão, oferecendo a taça a todos os críticos que tacharam aquela geração como “Era Dunga”. Ao término da Copa, ficou claro que aquele Brasil era legítimo e não tinha nada de europeu, como muitos diziam.



A defesa jogava em linha, saía tocando a bola e municiava o ataque com bolas preciosas, reflexo disso foi o volume de chances de gols que o Brasil teve ao longo do Mundial. O que faltou àquela equipe foi o poder de finalização. Mas não importa. Romário e Bebeto, que marcaram juntos oito dos 11 gols do Brasil na Copa, deram conta do recado e colocarem a seleção no topo das maiores campeãs mundiais, lugar onde ela permanece até hoje graças, também, ao título da Copa de 2002.

 

O capitão Dunga erguendo a taça de campeão
O capitão Dunga erguendo a taça de campeão

 

 

 

 

 

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