Oscar 2025: Flow vence o Oscar de “Melhor Animação”
- Rodrigo Marques
- 3 de mar.
- 3 min de leitura
O Filme independente da Letônia desbancou megaproduções estadunidenses na maior noite do cinema

No domingo, dia 2, na 97ª edição do Oscar, Flow recebeu o prêmio de “Melhor Animação” de 2025. Pela primeira vez, um filme produzido na Letônia levou a estatueta para casa, superando grandes produções como Robô Selvagem, da DreamWorks, e Divertidamente 2, da Disney.
O longa-metragem independente acompanha um gato preto que perde seu lar em uma inundação e encontra refúgio junto a outros animais em um barco abandonado. Para sobreviver, o felino solitário precisa aprender a nadar, caçar e colaborar com outras espécies. Gints Zilbalodis, diretor da animação, destacou em seu discurso no Oscar: “Estamos todos no mesmo barco, temos de ultrapassar nossas diferenças e encontrar formas de trabalhar juntos”.

A animação não tem diálogos, e os seres humanos não interferem na narrativa, aparecendo apenas por meio de construções destruídas pela água. O filme chamou a atenção do grande público, principalmente por seus cenários inundados, paisagens retomadas pela natureza e pela precisão nos detalhes da movimentação dos animais. A ênfase na cooperação, na resiliência da natureza e na reconstrução após um desastre também marcam a obra.
Desde a vitória no Globo de Ouro em janeiro, a Letônia tem comemorado o feito. Murais foram pintados e estátuas erguidas em homenagem ao gatinho preto, protagonista do filme. O prêmio foi exposto no Museu Nacional de Arte da Letônia, atraindo mais de 15 mil visitantes. Flow tornou-se o filme mais assistido da história do país, com mais de 300 mil espectadores, e seu sucesso incentivou o governo a investir mais no cinema nacional.

O governo da Letônia financiou parte do filme, que custou US$ 3,8 milhões. Em comparação, os concorrentes na categoria tiveram orçamentos muito superiores: US$ 78 milhões para Robô Selvagem e US$ 200 milhões para Divertidamente 2. Durante os cinco anos de produção, Zilbalodis acumulou diversas funções: foi diretor, co-roteirista, co-produtor, designer de produção e ainda contribuiu para a trilha sonora.

Após a vitória, Gints Zilbalodis declarou em entrevista à CNN: “Acredito que ‘Flow’ abriu portas para pessoas ao redor do mundo pensarem em fazer animação com softwares livres”. A fala do diretor faz referência à plataforma Blender, na qual o filme foi desenvolvido, um programa de código aberto que permite que desenvolvedores contribuam e aprimorem a ferramenta.
A vitória de Flow pode ser vista como um novo ponto de partida para futuras produções indicadas ao Oscar, considerando o recente interesse da Academia em reconhecer novos talentos da indústria. Nos últimos anos, o monopólio dos grandes estúdios no segmento de animação tem limitado a liberdade criativa do mercado, frequentemente saturado por sequências e filmes considerados “mais do mesmo” pelo público.

A categoria de “Melhor Animação” é relativamente recente no Oscar; foi incluída oficialmente apenas em 2002. Antes disso, a Academia homenageou algumas produções ao longo dos anos, como Branca de Neve e os Sete Anões em 1938, Uma Cilada Para Roger Rabbit em 1989 e Toy Story em 1996. Durante esse período, a premiação valorizou primordialmente produções americanas de grandes estúdios como Disney, Pixar e DreamWorks.
Entre 2008 e 2023, apenas três filmes vencedores da categoria não eram dos estúdios Disney: Rango (2012), Homem-Aranha no Aranhaverso (2019) e Pinóquio por Guillermo del Toro (2023). Além disso, a Disney tem um histórico ainda mais expressivo, com 26 premiações e 59 indicações em diversas categorias, consolidando-se como o maior vencedor da história do Oscar.
Apesar desse cenário, produções independentes continuam a se destacar na periferia da indústria cinematográfica. O diretor de Flow já indicou que o estúdio responsável pela animação está trabalhando em novos projetos. O público pode, em breve, ver outra estatueta ser conquistada pela promissora equipe da Letônia. Enquanto isso, Flow - À Deriva segue em cartaz nos cinemas brasileiros até 28 de março.


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